no cansaço das dúvidas,
da lentidão das utopias.
Talvez esse Poema que todos procuramos um dia assome a esta janela
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Licínia Quitério
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4:43:00 da tarde
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Olha o Sete Estrelo.
Acena-te na cintilação dos sete irmãos.
Há quem lhe dê geométrica definição.
Há quem desenhe animais, na compulsão de povoar o céu.
Lá estão o corpo, a cauda, as patas de bicho maior.
Sete estrelas, sete tentações, sete luzeiros a adornar a eternidade.
Fecha a respiração, abre rasgões na noite, adia o sono e a lassidão.
Verás a pequenez da tua mão.
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5:33:00 da tarde
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4:37:00 da tarde
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São assim as mulheres
Calíopes, Cassandras
Pelo tempo dos tempos
Outros nomes tomando
Outros cabelos, outros rostos
Doces e amargas
Sibilas e cerejas
Caçadoras, tecedeiras
Encantadoras e encantadas
Mulheres-serpentes
Mulheres-sereias
Mulheres-mães
Mulheres-filhas
Cantoras nas alturas
Chorosas e risonhas
Perversas amantes
Viúvas eternas
Julietas, Colombinas
Asseadas Marias
Não te demores Maria
Deixa o homem Maria
São todas assim
Mulheres-gregas
Mulheres-etíopes
Mulheres da França
Mães de Tebas
Enigmas por decifrar
Licínia Quitério
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1:14:00 da tarde
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O fim de um tempo, o princípio de outro, na roda do ano, na roda dos anos.
O Inverno prepara as despedidas, inquieto.
Nos homens, um desacerto, entre o frio e o calor, entre a tempestade e a calmaria.
Cheio de manhas, o velho Inverno.
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5:15:00 da tarde
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Os poemas lá vão
no seu destino de pássaros.
Ganham alturas, ventos de feição
algumas lágrimas de nuvem
remoinhos, acalmias
novos ímpetos, arrojos
ternuras envergonhadas
sinais de lume, olhos de lince,
lonjuras, lonjuras
música, música.
Descobrem mundos
aquém e além dos astros.
Hão-de ser tudo, nada.
Eu fico.
Licínia Quitério
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1:16:00 da tarde
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Há casas que existem porque um dia dissemos:
Olha ali uma casa.
Se voltarmos ao lugar, diremos:
Ali houve uma casa.
Um dia diremos:
Há casas que só existem enquanto as olharmos.
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7:27:00 da tarde
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2:43:00 da tarde
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Tantos dias há em tantos anos.
Tantas vontades de desistir ou persistir.
Assim o tempo dos vivos.
Não esquecer os nomes dos outros
que são resguardo, inspiração,
por vezes inquietude, assombração,
por vezes pedra, derrocada.
Em permanência, a estrada.
Licínia Quitério
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10:17:00 da manhã
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Não me perguntem como é que aqui cheguei
Vou falando de tudo e de nada que encontrei
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5:18:00 da tarde
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A vida é isto
A armadilha
O esconde-esconde
Agora tu o gato
Agora eu o rato
Mais logo tudo muda
Uma batalha
A que se chama paz
A que se chama guerra
E nós no trilho das gaivotas
Areia fora
Mar adentro
E voltar e voltar
E nunca o lugar é o mesmo
E nenhum de nós é igual
Recomeçar
Recomeçar
O infinito deve ser
Este cordel sem pontas soltas
De atar e desatar
Até romper
Voar
Licínia Quitério
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10:57:00 da manhã
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É uma casa muito antiga
de pessoas muito antigas
que à janela se mostravam
com os pequenos ao colo
a acenar à senhora
que dizia olá menino
e tudo continuava
rua acima rua abaixo
e o azul da casa lá estava
dias e anos passavam
e o pequeno que cresceu
à janela se mostrava
mas já ninguém acenava
à senhora que passava
e a senhora pensava
como o menino cresceu
nem um sorriso me deu
vida acima vida abaixo
o azul continuava
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11:39:00 da manhã
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Esta luz este verde este azul
e os recortes da folhagem
no silêncio da tarde
como se não houvesse a estridência
nos campos de batalha
sem luz sem verde sem azul
só ramos secos por testemunhas
Licínia Quitério
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10:07:00 da manhã
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Um fio que se rompeu
Foi o vento
Foi o arame
Foi a unha aguçada
Que faz o fio perdido do lençol
Ainda se os fios sofressem de saudade
Se ao menos fossem verdes
Se fossem capazes de atravessar a rua
Muita coisa podia ser
Um fio sem casa
Um fio sem irmandade
Um fio sem memória
Podia ser
vamos lá ver
Podia ser
Um fio de oiro
Esquecido do lençol
A rir a rir
Ao sol
A ensaiar um verso
Sem rimar
Sem rimar
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9:39:00 da manhã
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Era uma vez um dia
com um frio diferente
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4:22:00 da tarde
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Frágeis frias feridas
as cidades
feitas por construtores
desfeitas por invasores
na corrente dos séculos dos milénios
sobre o sangue a pedra o metal
Erguidas as aras aos deuses sempiternos
senhores da vingança
semeadores do ódio
poderosos
Cidades de mulheres
frágeis frias feridas
a fabricarem o perdão dos homens
o pão das crianças
a regarem o chão das guerras
até as lágrimas secarem
Cidades bombardeadas
Sobre o pó as mulheres caminham
na esperança de outra terra
onde possam cantar
adormecer
Licínia Quitério
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3:01:00 da tarde
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Enquanto passeia nos seus jardins de inverno, a mulher pensa na rapariga que ofertou a pele ao desenho colorido de um rosto e procura perceber por que o fez.
Por certo amou o dono desse rosto e quis amá-lo eternamente, como se diz do fugidio amor.
Se demorou a apagar o desenho, terá sido por medo, não fosse a pele doer ou crescer-lhe uma dor no coração.
Ao fim de muito passear nos seus jardins de inverno, a mulher desistiu de entender a tal rapariga com um amor tatuado.
Há-de aprender a pedir razões à sua pele nua, friorenta, que não guardou um amor fugidio.
Lembrar-se-á vagamente de o ter apagado e sentirá crescer-lhe uma dor no coração, enquanto passeia nos seus jardins de inverno.
Licínia Quitério
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9:54:00 da manhã
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Conseguiste subir a montanha de jade
Eu fiquei cá em baixo os pés na areia
O medo fechado na cintura
Não fosses deslizar na verdura da pedra
E cair
E eu sem me mover a afundar-me na quentura
Os olhos presos na tua hora de triunfo
Vamos ficar assim
A cada um seu grito ou sua lágrima
Sua altura ou planura
A montanha é só a montanha
O teu triunfo é a minha aflição
Se tombares
Será no colo do meu medo
Ainda que me afunde
Um pouco mais um pouco mais
Licínia Quitério
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12:57:00 da tarde
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Insinuam-se nas frestas, trazem aromas de chá e avistamos a espuma a receber-lhe o fio de quentura, a encher a taça, a oferecer-se à mão, à boca, ao corpo, à tessitura do sol nas paredes da tarde.
É a hora dos relógios, da areia, da água, das árvores sobrantes, dos véus da cor do chá, do arremedo das danças, dos medos, das preces, do calor dos corpos, do calor do chá, do ardor da memória, da febre dos animais, do tremor da grande pedra, do aroma do sangue.
Na taça, o chá esfriou.
Licínia Quitério
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12:44:00 da tarde
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Bonito é o lugar
Em forma de sossego
Pequeno limpo o lugar
Uma sala aberta à alegria
Uma varanda sobre um mar antigo
Um banco de jardim olhando o vale
Um corpo outro corpo
Uma voz lá ao longe
Um segredo a guardar
Discreto tímido
À espera de existir
O lugar
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Licínia Quitério
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10:06:00 da manhã
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Pousamos
o coração na mesa dos anos repetentes
Perguntamos
porque bates se nunca mais cobriste
o chão de frio do grande inverno
Repegamos
a cor das velhas dores
num teatro de espantos e silêncios
Representamos
a comédia que somos
bem ao largo de nós
na ilusão de um invicto perpétuo coração
Licínia Quitério
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11:07:00 da manhã
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Pássaros cegos
carregados de pólvora
sulcam os céus
Palavras encharcadas de guerra
sem alfabeto original
sem gramática
rebentam à boca dos generais
Nos dias envenenados
mulheres mudas caminham
homens sobrantes seguem-nas
e vão entoando um estranho canto
nascido da dor e do fumo
Licínia Quitério
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4:42:00 da tarde
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Verde o bosque que passeámos.
Tudo tínhamos
do chá de menta à varanda do estio
de Jacques Brel ao grito dos pavões
das tuas palavras claras aos meus versos infantes.
A verdura dava-nos o sorriso de mãe
e o abraço de amante.
Tínhamos o nome do bosque
inscrito na palma da mão.
Estávamos a salvo dos salteadores de futuro.
Foi depois do incêndio
que percebemos a cor do desalento.
O chá de menta amargou
e tudo ardeu
as tuas palavras claras e os meus versos infantes.
A verdura fez-se noite
mas o nome do bosque continua
na palma da minha mão.
Licínia Quitério
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5:32:00 da tarde
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